A botânica mágica das 7 ervas
1>>>COMIGO-NINGUÉM-PODE
Há mais de 100 variedades de plantas (tipo um antúrio) com esse nome. No Brasil, é a planta básica das 7 ervas; em Belém do Pará, segundo pesquisa recente, está presente em quase 50% das casas. As manchas brancas no meio das folhas são um aviso de perigo aos herbívoros: "Não me coma".
Comigo-ninguém-pode é planta tóxica, com efeitos dolorosos caso alguém ponha na boca, não precisando nem engolir. Basta a mastigação de um pedaço para provocar imediata reação. Em pessoas alérgicas, o simples contato com a folha é suficiente para fazer mal. Particularmente perigosa em local com criança.
"É o tipo da planta para não se ter em casa", diz o professor Marcos Furlan.
2>>>ESPADA-DE-SÃO-JORGE
Se a primeira contém risco, essa espada não faz mal a ninguém. Muitos até a utilizam com fins medicinais, pondo-a como escora em baixo do colchão para corrigir defeito de coluna. Embora não seja de origem africana, foi de tal modo adotada nos ritos afros que hoje é, neles, presença obrigatória. Planta rústica, dá-se bem em qualquer lugar e nos vasos vai tomando espaço, dependendo de contínuo desbaste para ser contida e não sufocar as outras.
3>>>GUINÉ (PITI)
Originária da floresta amazônica, a guiné acabou sendo levada para a África, onde ganhou o nome de "planta do Congo". Os escravos, no Brasil, cedo notaram que a guiné contem um princípio venenoso, que acabaram usando em poções para enfraquecer senhores que se mostravam especialmente cruéis ou que abusavam da mulher ou das filhas dos cativos. Esse uso deu à guiné um apelido: "amansa patrão".
O veneno é muito fraquinho, de forma que, para fazer efeito, devia ser ministrado por muito tempo, o que levava a uma observação contínua do estado físico do senhor para ver se ele já estava emagrecendo, ficando amarelo, fraco, para confirmar que a poção estava funcionando direito...
4>>>ARRUDA
Das sete ervas rituais, a arruda é, ao lado do alecrim, a mais antiga. Nativa da região do Mediterrâneo, tem várias citações na Bíblia, como em Lucas (cap. 12, vers. 42) em que é tratada como moeda, servindo - junto com a hortelã - para pagar dízimo.
Diz um samba antigo: "Se eu fosse você/punha um galhinho de arruda atrás da orelha/pra não matar esse encanto/que é doce como mel de abelha/Todo mundo lhe olha,/você pega um mau-olhado...". Se veio da Europa, a arruda ganhou no Brasil esse costume de ser colocada na orelha. No tempo do Império, havia, como pode ser visto num quadro de Debret, um forte comércio de arruda no Rio de Janeiro, então capital federal. Esse uso espalhou-se pelo Brasil.
5>>>MANJERICÃO
Vindas da Ásia e da Europa, há no Brasil perto de 100 variedades de manjericão, também chamado de alfavaca ou basílico. É uma planta aromática e comestível, muito valorizada em certo molho de macarrão (al pesto).
Todos os manjericões dão flores com muito néctar, o que faz a festa das abelhas.
6>>>ALECRIM
Como a arruda, muito referido em textos antigos, antes até da Bíblia. Evangelhos não reconhecidos afirmam que o alecrim tem três "coincidências" com a vida de Jesus:
1. a planta só vive 33 anos, idade de Cristo;
2. sua altura máxima é também a do messias;
3. os olhos de Jesus, de um tom azul-claro, são da cor da flor do alecrim.
O botânico Marcos Furlan diz que, em sua experiência como pesquisador, nunca viu um pé de alecrim durar mais de 20 anos, já viu planta com dois metros e meio de altura e, quanto aos olhos de Cristo, nunca soube de fonte segura de que cor eles eram.
Planta aromática, o alecrim já serviu para dar sabor especial a vinhos e é uma das preferidas para produzir fumaça em defumações rituais.
7>>>PIMENTA
A pimenta é retoricamente o último bastião de um conjunto de sete ervas, de tal modo que, para morrer, é preciso que a mandinga seja mesmo forte. Só um mau-olhado excepcional seria assim tão nefasto para se transformar num "seca-pimenteira". Rústica e resistente, a pimenteira não é, no entanto, a última a morrer num vaso de sete. Ela tem um ciclo vital determinado e, cumprido esse tempo, ela fenece, enquanto, a seu lado, estão ainda vigorosos o alecrim, a comigo e a espada-de-são-jorge, que normalmente são as três sobreviventes de um vaso originalmente com sete mudas. Há uma grande variedade de pimentas, mas as que mais se usam num vaso 7 ervas são cumari, dedo-de-moça e pimenta-de-bode.