Pombagira O Mistério Desconhecido
Por Walter Nkosi, especialista em cultura bantú e professor de Kimbundu, a principal língua dessa etnia. Cultura Bantu-Brasileira-Ngamba, o guardião: no Brasil é conhecido por Ngamba, que significa guardião em idioma bantú, e exerce funções semelhantes a Nkomdi. Nos Candomblés de Angola e Kongo, também são denominados Njila/Nzila ou Pambú Njila, o ‘Senhor Guardião do Caminho’, proveniente do idioma kimbundu; pambu (fronteira, encruzilhada...), njila (rua, caminho...), ‘o que caminha nas ruas, estradas, fronteiras, encruzilhadas... As funções atuantes do guardião são atribuídas exclusivamente para um Nkisi masculino, não cabendo a mesma para Nkisi feminino. No entanto, é notório a miscigenação nos candomblés em geral, onde entidades da Umbanda, conhecidas em tempos remotos por ‘povo da rua’ se intitularam erroneamente na atualidade como deidade africana, rei e rainha do candomblé, Pombagira, Legba e entidades exercendo funções masculinas de guardião. A falta de informação sobre a religião direciona os adeptos a práticas religiosas indevidas, propala e contribui para um distanciamento cada vez maior do culto tradicional africano. Urge maior conhecimento e seriedade nos cultos.
Aqui, reproduzimos parte do artigo para que nossos leitores saibam de onde se originou o nome “Pombagira” ou “pombogira” usados atualmente na Umbanda e nos demais cultos afro-brasileiros; é uma corruptela de Pambú Njila, o Guardião dos Caminhos e das Encruzilhadas no culto de nação Bantu, da língua Kimbundu.
Eu já li em outro autor, isso há mais de 30 anos, que o nome “Pombagira” derivava de Bombogira, entidade do culto angola que é muito oferendada nos caminhos e nas encruzilhadas, muito temida e respeitada na região africana onde é cultuada.
Há outras informações que nos revelam que Pombogira ou Pombagira ou Bombogira é derivada das “yamins” cultuadas na sociedade matriarcal secreta conhecida como “gelede”.
Se são cem por cento corretas ou só parcialmente, isso fica a critério de cada um, porque o fato é que existem, sim, espíritos femininos que incorporam em suas médiuns e apresentam-se como Pombagiras na Umbanda, assim como nos demais cultos afro-brasileiros.
Suas manifestações, informam-nos os mentores espirituais, são anteriores à Umbanda e já aconteciam esporadicamente nas “macumbas” do Rio de Janeiro, bem descritas no livro As Religiões do Rio, de autoria de João do Rio, livro esse reeditado em 2006, mas onde não há uma descrição detalhada dos nomes das entidades, e sim, apenas algumas informações, valiosíssimas, ainda que parciais.
Muitos autores umbandistas atribuíram-lhe o grau de Exu feminino em razão da falta de informações sobre essa entidade e do fato de manifestar-se nas linhas da esquerda, ocupadas por Exu e por Exu Mirim. Inclusive, alguns a descreveram como esposa de Exu e mãe de Exu Mirim.
Não devemos creditar essas interpretações, se errôneas, a ninguém, porque todos fomos vítimas da falta de informação e da desinformação geral, que geraram toda uma forma anômala de descrever as desconhecidas manifestações de entidades, que também nada revelaram sobre seus fundamentos divinos, e deixaram para a imaginação e a criatividade de cada um os conceitos sobre eles.
Se agora temos espíritos mensageiros que estão chegando até nós para que fundamentemos as incorporações umbandistas nas divindades-mistérios, então só temos de agradecer pelo que, finalmente, nos está sendo concedido.
Pai Benedito de Aruanda, o espírito mensageiro que está nos trazendo a fundamentação dos mistérios que se manifestam na Umbanda, cobra-nos um rigoroso respeito pelos umbandistas que semearam a Umbanda, o culto aos Orixás, as linhas de trabalhos espirituais, a forma do culto umbandista e os nomes aportuguesados dos nomes africanos que nos chegaram, trazidos pelos nossos antepassados vindos da áfrica, de toda ela, assim como aos nomes aportuguesados pertencentes ao tronco lingüístico tupi-guarani. (...)
O Mistério Pombagira abriu-se por inteiro na Umbanda e tanto pode ser esse quanto outro nome para identificá-lo porque, enquanto Orixá, seu verdadeiro nome nunca foi revelado na Teogonia Nagô; ele se encontra oculto entre os 200 Orixás desconhecidos, porque a Pombagira não foi humanizada no tempo como foram Exu, Oxalá, Iemanjá e todos os outros Orixás do panteão yorubano, muitos deles desconhecidos pelos umbandistas e por boa parte dos seguidores de outros cultos afros. (...)
Portanto, Pambu Njila para o guardião Bantu semelhante ao Exu Nagô e Pombagira para a guardiã umbandista, Rainha das Encruzilhadas da Vida e Senhora dos Caminhos à esquerda dos Orixás.
Pomba é um pássaro usado no passado como correio, “os pombos correios”. Gira é movimento, caminhada, deslocamento, volta, giro, etc. Portanto, interpretando seu nome genuinamente português, Pombagira significa mensageira dos caminhos à esquerda, trilhados por todos os que se desviaram dos seus originais caminhos evolutivos e que se perderam nos desvios e desvãos da vida.
Pombagira, genuinamente brasileira e umbandista, está aí para acolher a todos os que se encontram perdidos nos caminhos sombrios da vida... ou da ausência dela, certo?
Texto extraído do livro “Orixá Pombagira” de Rubens Saraceni, Editora Madras
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