domingo, 27 de fevereiro de 2011

Pombagira O Mistério Desconhecido



Por Walter Nkosi, especialista em cultura bantú e professor de Kimbundu, a principal língua dessa etnia. Cultura Bantu-Brasileira-Ngamba, o guardião: no Brasil é conhecido por Ngamba, que significa guardião em idioma bantú, e exerce funções semelhantes a Nkomdi. Nos Candomblés de Angola e Kongo, também são denominados Njila/Nzila ou Pambú Njila, o ‘Senhor Guardião do Caminho’, proveniente do idioma kimbundu; pambu (fronteira, encruzilhada...), njila (rua, caminho...), ‘o que caminha nas ruas, estradas, fronteiras, encruzilhadas... As funções atuantes do guardião são atribuídas exclusivamente para um Nkisi masculino, não cabendo a mesma para Nkisi feminino. No entanto, é notório a miscigenação nos candomblés em geral, onde entidades da Umbanda, conhecidas em tempos remotos por ‘povo da rua’ se intitularam erroneamente na atualidade como deidade africana, rei e rainha do candomblé, Pombagira, Legba e entidades exercendo funções masculinas de guardião. A falta de informação sobre a religião direciona os adeptos a práticas religiosas indevidas, propala e contribui para um distanciamento cada vez maior do culto tradicional africano. Urge maior conhecimento e seriedade nos cultos.



Aqui, reproduzimos parte do artigo para que nossos leitores saibam de onde se originou o nome “Pombagira” ou “pombogira” usados atualmente na Umbanda e nos demais cultos afro-brasileiros; é uma corruptela de Pambú Njila, o Guardião dos Caminhos e das Encruzilhadas no culto de nação Bantu, da língua Kimbundu.

Eu já li em outro autor, isso há mais de 30 anos, que o nome “Pombagira” derivava de Bombogira, entidade do culto angola que é muito oferendada nos caminhos e nas encruzilhadas, mui­to temida e respeitada na região africana onde é cultuada.

Há outras informações que nos revelam que Pombogira ou Pombagira ou Bombogira é derivada das “yamins” cultuadas na sociedade matriarcal secreta conhecida como “gelede”.

Se são cem por cento corretas ou só parcialmente, isso fica a critério de cada um, porque o fato é que existem, sim, espíritos femininos que incorporam em suas médiuns e apresentam-se como Pombagiras na Umbanda, assim como nos demais cultos afro-brasileiros.

Suas manifestações, informam-nos os mentores espirituais, são anteriores à Umbanda e já aconteciam esporadica­mente nas “macumbas” do Rio de Ja­neiro, bem descritas no livro As Reli­giões do Rio, de autoria de João do Rio, livro esse reeditado em 2006, mas onde não há uma descrição detalhada dos nomes das entidades, e sim, apenas algumas informações, valiosíssi­mas, ainda que parciais.

Muitos autores umbandistas atribuí­ram-lhe o grau de Exu feminino em razão da falta de informações sobre essa entidade e do fato de manifestar-se nas linhas da esquerda, ocupadas por Exu e por Exu Mirim. Inclusive, alguns a descreveram como esposa de Exu e mãe de Exu Mirim.

Não devemos creditar essas inter­pretações, se errôneas, a ninguém, porque todos fomos vítimas da falta de informação e da desinformação geral, que geraram toda uma forma anômala de descrever as desconhecidas manife­stações de entidades, que também nada revelaram sobre seus fundamentos divinos, e deixaram para a imaginação e a criatividade de cada um os conceitos sobre eles.

Se agora temos espíritos mensa­geiros que estão chegando até nós para que fundamentemos as incorporações umbandistas nas divindades-mistérios, então só temos de agradecer pelo que, finalmente, nos está sendo concedido.

Pai Benedito de Aruanda, o espírito mensageiro que está nos trazendo a fun­damentação dos mistérios que se ma­nifestam na Umbanda, co­bra-nos um ri­goroso respeito pelos um­bandistas que semearam a Umbanda, o culto aos Orixás, as linhas de tra­balhos espirituais, a forma do culto umbandista e os no­mes aportuguesados dos no­mes africanos que nos che­garam, trazidos pe­los nossos antepas­sa­dos vin­dos da áfrica, de toda ela, assim como aos nomes aportuguesados perten­centes ao tronco lingüís­tico tupi-guarani. (...)

O Mistério Pombagira abriu-se por inteiro na Um­banda e tanto pode ser esse quanto outro nome para identificá-lo porque, enquanto Orixá, seu ver­da­deiro nome nunca foi revelado na Teo­gonia Nagô; ele se encontra oculto entre os 200 Orixás desconhecidos, porque a Pom­bagira não foi humanizada no tempo como foram Exu, Oxalá, Iemanjá e todos os outros Orixás do panteão yorubano, muitos deles des­conhecidos pelos um­bandistas e por boa parte dos segui­dores de outros cultos afros. (...)

Portanto, Pambu Njila para o guar­dião Bantu semelhante ao Exu Nagô e Pombagira para a guardiã umbandista, Rainha das Encruzilhadas da Vida e Senhora dos Caminhos à esquerda dos Orixás.

Pomba é um pássaro usado no pas­sado como correio, “os pombos cor­reios”. Gira é movimento, caminhada, deslocamento, volta, giro, etc. Por­tan­to, interpretando seu nome genuina­mente português, Pomba­gi­ra significa mensageira dos caminhos à esquerda, tri­lhados por todos os que se desviaram dos seus originais ca­minhos evolutivos e que se perderam nos desvios e des­vãos da vida.

Pombagira, genui­na­mente brasileira e umban­dista, está aí para acolher a todos os que se encontram perdidos nos caminhos sombrios da vida... ou da ausência dela, certo?



Texto extraído do livro “Orixá Pombagira” de Rubens Saraceni, Editora Madras

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